sábado, 10 de janeiro de 2009

Amarga ilusão

Desde que chegamos à Nova Zelândia, há quase 2 meses e meio, tenho conhecido pessoas das mais variadas partes do Brasil – São Paulo (capital e interior), Paraná, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Mato Grosso (do sul e “do norte”), e por aí vai. Entre elas, também encontrei gente com os mais variados objetivos e intensões ao vir para cá. Tem os que vieram para aprender inglês, para se aventurar e viajar, para ter uma experiência internacional, para fugir de alguma situação no Brasil, enfim, tem de tudo. Inclusive gente que adora a NZ e gente que odeia.

De uns tempos pra cá, especialmente depois que começamos a trabalhar na roça, tenho conhecido muita gente que veio pra cá com uma ilusão enganosa de ganhar dinheiro fácil e voltar pro Brasil bem de vida. Gente que largou mulher e filhos, vendeu tudo o que tinha e investiu nessa viagem, crente que em poucos meses recuperaria todo o dinheiro, e mais, voltaria pro Brasil com o bolso cheio. E são esses os que mais se decepcionaram com o que encontraram aqui.

Foi-se o tempo em que sair do Brasil pra fazer dinheiro era fácil. Estados Unidos, Japão, Europa... acredito que todos os lugares já estão infestados demais de imigrantes, o que torna as coisas mais difíceis do que 5 ou 10 anos atrás. E se viver nesses países que exportam mão-de-obra para o serviço pesado já não é fácil, na Nova Zelândia, um país que tem ao todo pouco mais de 4 milhões de habitantes, também não poderia ser.

A Nova Zelândia não é um país para se ficar rico. Já sabíamos disso quando saímos do Brasil, mas muita gente pensa o contrário quando vem pra cá. Não é impossível fazer bastante dinheiro aqui, mas é preciso estar disposto a ralar, e muito. Colocando em números, quando se trabalha por hora aqui, o mínimo que se ganha, já com os descontos e impostos, é $10 por hora. Em horticultura, dá pra fazer tranquilamente 10 ou 12 horas por dia, tem quem faça mais. Com isso, tira-se no mínimo $100 por dia. Quem ganha isso no Brasil? Fora isso, em época de colheita, quando se ganha por produção, é possível fazer $20 ou $25 por hora trabalhada, ou seja, mais que o dobro. Considerando que aqui é uma cidade onde gasta-se pouco para sobreviver, já que a maior parte do tempo as pessoas passam trabalhando, dá pra juntar um bom dinheiro. Só tem um pequeno detalhe, o trabalho não é moleza...

Na última semana começou a colheita da abóbora aqui em Hastings. Dizem que é uma das coisas que mais dá dinheiro por aqui, em compensação, os meninos que foram pela primeira vez falaram que é pior que o inferno. Voltaram quebrados, alguns disseram que não vão nunca mais. Aí eu fico pensando, até que ponto isso compensa? De que adianta ganhar $250 por dia se no dia seguinte você vai estar quebrado, vivendo à base de remédio para dor? Na boa, não quero isso pra mim. Ainda por cima, se o trabalho não for bem feito ou se o “boss” achar que não valeu o combinado, corre-se o risco de demorar semanas para receber, ou nem receber.

É por isso que muita gente se desilude rapidinho, mas acaba ficando por aqui pra tentar pelo menos cobrir os custos da viagem, que não é das mais baratas. O que eu não acho certo é que essas pessoas desiludidas saem falando que a Nova Zelândia é um inferno, que odeia este lugar... Sinceramente, o problema não é com o país, mas sim com essas pessoas e com a ilusão deturpada que as trouxe para cá. Acho errado colocarem num país, que oferece tanta oportunidade, a culpa de terem se precipitado e quebrado a cara.

A Nova Zelândia é um lugar para se viver bem. Para quem quer trabalhar “humanamente”, é possível ganhar dinheiro o suficiente para viver bem e aproveitar a qualidade de vida que o país oferece. Quer ficar rico? Não venha pra cá. Procure um lugar ainda pouco explorado por imigrantes. Agora, se quer viver bem? Então pode vir sem medo de ser feliz. Nossa idéia, desde o começo, não foi ganhar rios de dinheiro. Queríamos aprender inglês, ter uma experiência internacional, conhecer uma nova cultura e ter qualidade de vida. Aos poucos vamos conquistando cada um dos objetivos, e tenho certeza que a “Aotearoa” ainda tem muito a nos oferecer.

Kia ora!!*

*Cumprimento Maori que pode ser tanto Olá quanto um agradecimento.

Um comentário:

Wev's disse...

Estou lendo seus relatos, estou torcendo para as coisas darem certo por ai...

deve ser uma experiencia fantastica hem!
Boa sorte